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Publicado em 11 Dezembro 2021
De forma tímida, a bola começou a rolar (e quicar) no dia 7 de novembro na Taça Uberaba, que este ano substitui o Amadorão. Nos arredores dos campos, já se podia ver o churrasqueiro e o cervejeiro, de máscaras, como manda o protocolo. No alambrado, sem tanta aglomeração, as torcidas se adaptavam pra matar a saudade. Foram 32 jogos até aqui com 107 gols marcados e inúmeros lances que vão ser debatidos por muito tempo nos botequins dos bairros.
Sete Colinas, Grêmio São Benedito, Independente e Campo Florido entram em campo neste domingo (12) para a rodada de ida das semifinais. Dos quatro, dois farão a final, marcada para o início de janeiro. É o futebol amador transformando as ausências em possibilidades.
Independente
Quando foi divulgado que haveria um torneio relâmpago, valendo o campeonato amador da cidade, Túlio Jorge de Miranda, o atual presidente do Independente, ficou preocupado.
O tradicional e decampeão Independente Atlético Clube não tinha um time. O primeiro passo do dirigente, que em 1972 jogava pelo IAC – inclusive, apelidado de Tostãozinho pelo saudoso Tião Valadão – foi listar os últimos atletas que haviam jogado pelo clube em 2019, depois, abrir conversa com o treinador Ricardo Fernando Soares Mendes, o “Socorro”, que havia comandado a equipe da última vez.
Túlio e Ricardo não se conheciam pessoalmente, mas já tinham ouvido muita coisa boa um do outro. Assim, uniram forças pra começar a montar um time. Ricardo passou a convidar atletas do seu grupo de confiança, que por sua vez foram convidando outros. Tão logo, tinham uma equipe pra colocar em campo.
“Para o Ricardo, dei total liberdade para convidar quem ele quisesse, desde que não houvesse ônus para o Independente. Durante a minha gestão, não tenho pretensão alguma de fazer pagamento à atletas. Afinal, o esporte é amador. Nossa assistência é médica, como do nosso fisioterapeuta, Neto Pinheiro, ou algum suporte, além, claro, da resenha no terceiro tempo. Já agradeço ao Ricardo e ao grupo pelo que fizemos até agora, com um custo financeiro mínimo e um benefício enorme”, destaca Túlio, reforçando que a diretoria, com Ivinho, Guina, Argemiro, Chiclete, Victor e Amarildo estão na retaguarda, para que tudo ocorra da melhor forma possível.
O time comandado por Socorro entra em campo para enfrentar o Campo Florido. Em busca da 11ª taça, o clube cadete do bairro yankee, até aqui, venceu duas e empatou três. O último empate, contra o Vila Esperança pelas quartas-de-final, levou a partida para os pênaltis. Foram 6 gols marcados e apenas 3 sofridos.
Campo Florido
Desde 2018 com um time base montado e com uma boa estrutura e apoio da Secretaria de Esportes, na figura do secretário Douglas, o Campo Florido não teve muitas dificuldades para se inscrever no campeonato. A equipe conta com grande maioria de atletas de Campo Florido (apenas seis jogadores não são da cidade), treina de segunda a sexta e, por duas vezes por semana, na caixa de areia.
Os treinamentos são comandados pelo experiente Pavão, atleta que já defendeu diversas equipes de Uberaba e já foi campeão. Nos dias dos jogos, o comando à beira do campo fica por conta do secretário Douglas Sousa da Costa que, além de assumir o time como técnico, tem oferecido, junto ao prefeito Renato Soares de Freitas, o Renatinho, todo o suporte necessário para a competição, como as viagens até Uberaba, a estrutura para os treinamentos e os uniformes, que levam as cores do brasão da cidade.
Nos coletes utilizados pelos titulares no aquecimento e dos reservas enquanto suplentes, a foto de Augostinho, pai do craque do time, Pavão, e grande fã e apoiador do esporte. Figura muito querida e conhecida na cidade, Augostinho faleceu no último ano. “Quem me conhece pelo futebol amador, sabe o quanto meu pai amava estar no campo comigo em Uberaba aos domingos. Quando vejo a imagem dele nos coletes, pra mim é muito importante. Eu sei que ele está ali e que meus companheiros e amigos de time estão correndo e lutando por ele, que tinha o sonho de ver o Campo Florido disputando o Amador de Uberaba”, diz um emocionado Pavão. “Tudo isso aconteceu, sobretudo, graças ao empenho do secretário Douglas, que não mediu esforços, e do prefeito Renatinho que deu o suporte”, emenda. “Meu pai foi e é meu ponto de equilíbrio. Eu jogo por ele, que está nos abençoando lá de cima”.
Até as semis, o representante da cidade de Campo Florido venceu três, empatou uma e perdeu uma, tendo feito oito gols e levado cinco. Nas quartas, passou pela Merceana nos pênaltis. Domingo entra em campo para enfrentar o tradicional Independente pela primeira partida das semifinais. De algum bom lugar, Augostinho se ajeitará na arquibancada pra assistir ao time de sua querida cidade.
Sete Colinas
“Graças a Deus, não temos dificuldades para montar time. São muitos os filhos de ex-jogadores da Sete. Só nesse, também, são quatro os que são meus parentes”, inicia o presidente Gaspar Domingues de Abreu, o popular Tigrinho.
Do alto do Abadia, a Sete Colinas já tinha uma equipe base quando a volta do futebol amador foi anunciada. A dificuldade seria a mesma de sempre: os uniformes, o pagamento do campo e a “resenha”, que sempre acontece após os jogos. A ajuda fica por conta de torcedores antigos e amigos, que levam um refrigerante, uma cerveja. No mais, sai do bolso da turma à frente do time.
Os jogadores, a maioria do bairro, treinam por si e se encontram no complexo esportivo do bairro para uma atividade física. Toda a comunicação é feita pelo grupo de WhatsApp, “Família Sete”, onde organizam a logística e os horários dos jogos.
Há 27 anos no time, Tigrinho chegou pra jogar e depois virou diretor, função que exerce há 24 temporadas. A Sete não paga jogadores, mas garante a resenha após os jogos. É um time amador de bairro, como deve ser. Hoje, junto ao seu filho Jean, Tigrinho escala e comanda à beira do campo.
Invicto até aqui, com quatro vitórias e um empate, e dono do melhor ataque da competição, com dezessete gols marcados, com cinco sofridos, o time encara pela semifinal o Grêmio São Benedito, adversário que já enfrentou na primeira fase, vencendo por 3 x 2. Tigrinho e Jean não se apegam nesse resultado, pregam respeito ao adversário e afirmam que o campeonato é outro.
Nas quartas-de-final, a Águia eliminou o Hawaí. Chegando ou não à final, é certo que a Sete continuará entrando em campo. Pela amizade, pela resenha e pelas histórias.
Grêmio São Benedito
Com uma base montada desde 2019, quando a equipe fez boa campanha, vindo de anos anteriores ruins, o Grêmio já contava com um bom plantel formado pelo presidente Washington e pelo vice-presidente Geverton. Foi só organizar, reforçar alguns setores e aprimorar a parte física.
“Nós somos um time familiar, o verdadeiro amador, não pagamos jogadores e nós mesmos lavamos os uniformes. Em dias de jogos, monto um pequeno bar no meu carro, que ajuda a pagar nosso mando de campo e um refrigerante para os atletas. Temos um amigo da Realce Móveis Planejados que ajuda com um churrasco e também com o aluguel do campo. O lucro do bar revertemos pra comprar bola, remédios e material”, conta o técnico Givanildo Antônio Rosa, que assumiu em 2019.
Giva é também presidente do moto-clube Legionários do Bem, voltado ao lazer e ações sociais. Recentemente, os Legionários fizeram um evento na praça da Mogiana, arrecadando R$ 1600 em dinheiro e 100 litros de leite, doados ao centro espírita João Urzerdo.
O Grêmio SB iniciou o campeonato perdendo para o adversário da semifinal, o Sete Colinas, mas se recuperou, goleando Olímpico e Baixa. Nas quartas, a equipe superou o Ipiranga, que tinha feito uma das melhores campanhas até ali.
Na campanha, três vitórias, um empate e uma derrota. Foram 15 gols marcados até agora, e sete sofridos. O time tem o artilheiro da competição, o atacante Jonathan, autor de dez gols. O duelo com o vice-artilheiro Zé Vitor, da Sete (7 gols) será uma atração à parte.